Versos Monçoeiros
(por Willians Boves - 1º lugar no FLIPORTO 2012)
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Almeida Júnior - Estudo da Partida da Monção, 1897 |
Sob a abóboda celestial que no horizonte
esmaecia,
Aos homens a terra despiu-se em dourado
fulgor,
Aos seus mais altos ideais jus fazia,
A vidas inglórias prometeu doce sabor.
Resplandecer dourado de frágil esperança,
Dos homens a cobiça avivou,
Objeto da mais vil ganância,
Para o poente os olhares desviou.
Torrentes em silêncio fluíam,
Como em escárnio, em mentirosa placidez,
Impensáveis suplícios mascaravam,
Bem como da obstinação humana zombavam,
Mas que desdenhavam, caso subjugadas fossem.
E das torrentes os homens fizeram caminho,
Que em tosco fundeadouro principiava,
Donde altivez alpestre em eminência se
elevava,
Testemunha silenciosa de vidas ao poente
lançadas.
Quão majestoso vale, brilhante em tons
esmeraldas,
Vivenda de árvores alegres, outeiros que se
justapunham,
Quais proveram as viaturas, que ao poente
rumariam,
E com as torrentes, desiguais contendas
travariam.
Qual ácido a corroer o ser - o pesar das
despedidas,
Pois nada se podia antever - na iminência das
partidas,
A Deus, súplicas de homens aos quais coragem
Deus concedeu, pois ao poente,
Tudo para trás deixar-se-ia.
Avaremanduava, Itagaçava, Avanhandava!
Bracaé, Itupeva, Itapura!
Jupiá, Caijurú, Curaó!
Paiaguá, Guaicuru, Caiapó!
"Por torrentes safiras de lágrimas
ousamos navegar,
De rubro manchamos as riquezas d'além-mar,
Muitos sobrevivemos apenas nos sonhos de
nossos filhos, pois nossas vidas,
Nas torrentes deixamos escapar.
Oh, ambição nossa, levaste-nos a que, afinal?
Apenas
as fronteiras da pátria - para longe... escorraçar?"