sexta-feira, 29 de junho de 2012

Obrigado Por Me Ouvirem (por José Eduardo "JEB" Bertoncello)


O Amável Amor Dos Amadores Amantes Da Arte

Ou

Obrigado Por Me Ouvirem


Por JEB (José Eduardo Bertoncello)


Esta é uma noite de amadores.

Podemos entender que o amador é aquele que começa do nada, contando apenas com seu amor pela arte. Começa sem estudo, sem treino e sem experiência. Só com a vontade de fazer.

Para o amador, tentar ser artista é como escalar uma pirâmide. Não uma montanha, vejam bem, pois não é uma briga solitária contra a natureza que ele realiza. O amador tenta subir escalando pela cultura construída ao longo de séculos por feras das artes. Uma pirâmide erguida pelo trabalho de mestres ao longo de gerações. Ele não consegue deixar de ver o quanto já fizeram melhor que ele.

Não é fácil oferecer seus rascunhos inseguros para um mundo que tem Shakespeare, Vinícius De Moraes e outros tantos monstros sagrados.

Mas o amador tem vontade de fazer.

O amador quer as luzes também. E falo tanto dos fachos dos holofotes (oportunidade de se apresentar) quanto do brilho dos olhos da platéia (atenção dos amigos). E o amador também quer ouvir o som de seus aplausos, e ele os merece. Pois, se as palmas não soarem como rojões que comemoram seu gênio, parecerão como aquele "tap! tap!" do amistoso tapinha nas costas, dizendo "Você fez o seu melhor! Parabéns por isso, cara!"

Então, àqueles que optaram pelo Sarau para animar essa noite, pedimos que sejam amorosos com os que se apresentarem. Perdoem o nervosismo que aparecerá  nos passos receosos de virem até a frente, nas mãos trêmulas que são escondidas nos bolsos, nos olhares que miram o chão ou algum ponto sem espectador. É aquela pedra no caminho chamada timidez.

Tenham a certeza de que quem se apresenta está fazendo seu melhor. Mais que isso, percebam: está dando o seu melhor para vocês da platéia! Está presenteando-os.

É uma honra isso. Para os dois.

Então, curtam a noite, percebendo o amor e dando amor. Ouvindo.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O TEMPO (por Alison Souto)

O TEMPO (por Alison Souto)
 
             Às vezes me pergunto: Será que o tempo tá voando, pois nem percebi como passou rápido o dia, a hora, os minutos... mas na verdade o tempo continua lá. O mesmo espaço não muda, só a gente, ah! Isso muda e como muda. Lá vem as rugas, os cabelos brancos. Ah, o tempo! Como ele castiga. Ah! Como ele maltrata, mas na verdade ele é lindo. Sabe como é lindo, pois é nesse envelhecer que a gente vai vendo as mudanças que só ele pode causar. Deixa saudades, pois quando a gente lembra dos velhos tempos, ah, que saudade do meu tempo de criança. Tempos bons. Nossa, não precisava me preocupar com nada, só com a lição da escola porque se não... no dia seguinte vinha a bronca da tia da escola e como vinha.... Que saudades.
Ah! Tempos felizes, mas a gente queria que o
tempo passasse pois queria chegar aos dezoito logo. Ser independente, ah! que alegria. Alegria que nada, o tempo correu.
Fiz dezoito e agora as preocupações do dia a dia, a namorada, o trabalho, a faculdade... nossa quanta coisa para pensar, meu Deus! E o tempo passando. Onde vamos parar, quero voltar, tem como?
             Não. Agora já é tarde. Tenho que seguir o que o tempo vai me programar. Corre, corre, nossa e como a gente corre. Para tudo queremos que o tempo não passe, mas na verdade ele passa. Ai chega sua maturidade, ah, como ela vem. Sento para lembrar dos tempos bons, aqueles quando por muitas vezes parei. Fiquei ouvindo as histórias de papai, às vezes que pulei no colo dele. Ah, que saudade daquele tempo que não vai voltar mais. Quantas pessoas, pais que não querem ter o tempo para seus filhos, filhos que não querem ter tempo para seus pais...
            Se eu pudesse, ah, como eu perderia muito mais tempo com o meu pai. Ia poder saborear cada vez mais. Mas sabe como é o tempo. Ele passa e só a gente não percebe como ele passa e vai só deixando saudades, saudades que só o tempo vai fazer-me recordar....

ESPERA (por Geruza Zelnys)

ESPERA
(por Geruza Zelnys)
Espero-te
E aceito a tua demora
Porque há ainda muita coisa a fazer:
Tecer a manhã ensolarada
Plantar a árvore e preparar o fruto
Amanhecer pitangas rubras e doces
Cozer orvalhos raios e trovões
Lustrar luas e estrelas
Ver apenas a chuva chovendo
E depois de todas as lidas
Não apresses tua demora
Aceito-a e espero-te
Há muito ainda o que fazer:
Preparar o apetite da cama
Adorná-la de renda e desejo
E tudo quanto gostas
Asas fogo óleo ervas
E eu

Porque aceito que é assim que me queres:
Por último e à tua espera.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Minha TERRA, minha VIDA! (por Maristela Rodrigues)

Minha TERRA, minha VIDA!
 (por Maristela Rodrigues)
05/junho/2012 -  Dia do Meio Ambiente


Nesse mundo nasci,
Nesse mundo cresci.
Cheio de alegria e flores
Salada de verduras e legumes.

Nadei muito em riacho,
Brinquei de correr no mato
Foi um tempo muito bom,
Pelo menos, é o que acho.
Até quando vou poder...
No mesmo mato correr?
Vou poder nadar de novo?
Na minha salada colocar ovo?...

Até quando você vai...
Respirar para nos refrescar?
Até quando viverá, para nos fornecer...
A brisa que nos faz cantar,
O alimento que nos faz crescer.

Até quando seguimos...
Caminhando sempre e sempre,
Esperamos o milagre acontecer...
E que o homem olhe pra frente,
E veja que é necessário fazer.

Até quando...
Veremos seus encantos.
Até quando...
Escutaremos o seu canto.
Até quando...
Poderemos rir e sorrir.
Até quando...
Teremos o direito de ir e vir.

Sem fumaça, sem queimada,
Sem matança ou caçada...
E a nossa querida água,
Sempre, sempre preservada.

Você é meu encanto...
Você é também meu pranto.
Você é a minha vida...
Minha Terra querida!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Elza (por Elineu Rosa Tomé)

Elza

(por Elineu Rosa Tomé)

Então Jesus declarou: “Eu sou o Messias! Eu, que estou falando com você.”
Naquele momento os discípulos voltaram e ficaram surpresos ao encontrá-lo
conversando com uma mulher...
Evangelho de João, capítulo 4, versos 26 e 27.




Elza

                  O dia acabava com um clarão vermelho por trás das casas do fim da rua.
Relativamente recente era a rua e mais recente ainda o seu asfalto. Casas simples de
modelos iguais, com cores variando entre azul claro e vários tons de verde. Algumas
construções ainda recebendo reformas, outras já precisando delas. Vindos do trabalho,
muitos chegavam de moto, ou a pé subiam da rua de baixo, do ponto final. Homens e
mulheres, estando os mais velhos na casa dos trinta. Todos cansados. Elza sempre
esperava o dia acabar e as pessoas chegarem. Seu marido em meio a todos tinha o
diferencial de chegar dentro de um Verona 91, já quitado havia dois meses. Ficando em
pé com o mais novo nos braços e o mais velho em algum lugar da vizinhança, Elza
construiu um sorriso, tirou o suor do rosto e encarou seu marido que entrava pelo
portão. Passando por ela como se Elza fosse parte da mureta da área, entrou pela sala,
exalando um forte cheiro de graxa. Perguntou pelo mais velho e pela janta, reclamou da
fome e do chefe. Bebeu água gelada direto na garrafa e foi para o banho.
                  O marido jantava tendo ao lado o mais velho que chegara há pouco. Sem fome, Elza deu de comer ao mais novo e foi sentar-se em frente a TV. Pouco depois viu o
mais velho sair de novo. “Para aonde será que ele vai?” – resmungou consigo. Nem
percebeu quando ganhou ao lado a companhia do marido que roncava. Depois da última
novela era hora de encontrar, de alguma maneira, o sono. Já era tarde para quem
acordava muito cedo e resolveu ir dormir depois de conferir que todos já estavam
deitados. Inclusive o mais velho. Parou em frente à janela da cozinha e de lá observou a
noite que descansava em seu quintal. Sentiu o ar frio que varava pelos vãos entre os
vidros da janela da cozinha. Aproximou o rosto até quase encostar-se a ela. Aproveitou
para abrir bem os olhos e sentir o ar assoprá-los. Era tão simples, mas tão seu. O vento
que vinha de seu quintal tornara-se um amigo confiável e silencioso.
                  O despertar era sempre às 5:30h. Fazia o café enquanto esperava o marido
voltar da padaria. O sono puxava sua cabeça para perto do calor da água que fervia. O
marido para o trabalho, o mais velho para a escola, o mais novo nos braços. Limpou a
casa, e foi fazer as compras do dia. No caminho da mercearia parou em frente a um
cartaz que prometia renda garantida para quem fizesse um curso com um nome
estranho. O mais novo dava-lhe tapinhas no rosto, gesto que a fez lembrar-se que seu
marido não gostava da ideia de colocar algum filho na creche. De onde ele vinha,
sempre dizia, era a mãe quem educava os filhos. “De onde ele vinha” era a explicação
para tudo na vida dele e agora passava a explicar a dela também. Resignou-se dizendo a si mesma que, de onde ela veio, não se reclamava da vida. Já tinha marido, filhos, casa,
roupa e comida, o que mais desejava? Lembrou-se da tia dizendo: “Felicidade é uma
coisa grande demais, Elza. Depois não tem onde guardar.”. Ponderou que sua tia, mãe
ou avó tiveram mais sofrimentos que ela. Com certeza sua vida era menos dolorida.

                    Talvez, mas... Com esforço calou-se por dentro. Sentia algo que não sabia nomear direito. Culpa? Mas culpa de que?
                    O sol estava forte como sempre, aquele calor aumentava o desconforto que
vinha de dentro e parecia transformar-se em suor. Não sabia direito o que sentia, mas
aquilo vazava. A rua era comprida, o mais novo e as sacolas pesavam mais que o
normal. Elza era bonita, chamava atenção na rua, mas nunca pensava nisso. Queria
chegar logo, ligar o ventilador, sair daquela luz que queimava. Beber água gelada com
gotas de limão que segunda sua tia, ajudavam a matar a sede. Foi o que fez ao chegar à
cozinha. Era hora do almoço e deu de comer ao mais novo. Ela mesma não almoçava
desde que seu marido começou a comer na fábrica. Precisava voltar a alimentar-se
direito, o marido já reclamara várias vezes que ela estava muito magra, nem tinha nem
onde pegar.
                    A noite não chegara, mas desabara sobre sua casa. Estava sendo assim
ultimamente, conforme o dia acabava e crescia a noite, aumentava seu desarranjo por
dentro. Como se sua alma tivesse levado um tombo e toda roxa, doesse em qualquer
posição. Sentia-se sozinha com uma sensação que a tomava, e parecia subir com a
temperatura. Quase conseguiu definir o que sentia. Olhou o marido dormindo. Lembrou-
se da janela que liberava o ar para invadir sua cozinha. Todos dormiam. Procurou o
socorro do vento, do amigo. Chegou o rosto bem perto, abriu os olhos devagar,
percorreu o quintal escuro e viu. Brilhava com um brilho diferente, apenas suficiente
para brilhar e nada mais. Silencioso como o vento, seu amigo. Mas era lindo aquele
anjo. Devia ser um anjo. Nunca tinha visto um antes, mas... Olhou-a nos olhos. Elza não
teve dúvidas, o anjo a olhou bem nos olhos e foi embora. O tempo parecia ter parado
em seu quintal e cozinha. Elza não sentia medo algum. Procurava apenas um alívio
naquela noite... Acabou encontrando esperança.

Bicicleta (por Elineu Rosa Tomé)

Bicicleta
(por Elineu Rosa Tomé)

                  Era uma manhã mais do que clara, era luminosa e fresca. Cê sabe como é.
Quando se está confortável tanto por fora como por dentro? A luz da manhã entrando
no coração e vice-versa. Era um começo de dia assim, uma manhã dessas que a gente
tem saudade quando se recorda. Já todo arrumado para ir à escola com minha lancheira
municiada e pendurada ao ombro, uniforme escolar limpo e passado, cabelo repartido
ao meio, sentado no degrau rente à calçada, eu esperava. Acontecia de ser raro um dia
como aquele. Portanto eu fazia questão de aproveitá-lo, de dar valor, como dizem.
Impacientemente, porém diligentemente eu esperava a hora de ir para a escola na
bicicleta do pai. Contando assim parece banal, mas era único. Um dia com sabor e
cheiro, textura e cor. Eram sorrisos, risos, gargalhadas e infância. Muita infância. Na
cadeirinha da bicicleta entre meu pai e o guidão eu voava. Eu sei, eu sei que não saia do
chão, e chão de terra batida... Sei de tudo isso, mas eu voava. O mundo corria abaixo de
mim.
                    Ali e naquele momento não havia lugar para medo ou tristeza. Não tinha medo
nem do futuro. O que era o futuro? Desconhecia o conceito, o medo e o tempo. O que
me interessava era o presente do passeio ganho e o presente do tempo imediato. Era a
desforra do agora, do relógio parado no momento da festa. Apesar de ser pequenininho,
tanto no tamanho quanto na idade. Pequenininho também na noção das coisas, e talvez
por tudo isso ou apesar de tudo isso, eu não pensava na vida, como dizem. Uma das
melhores partes era não pensar nela, na vida. Pois então... Eu voava. Cê entendeu? Tá
certo que era numa bicicleta velha, num banquinho frouxo, numa rua de terra
esburacada, meu pai com pressa, meu pai cansado, meu pai trabalhando no turno da
noite, meu pai sem dinheiro... Desculpas... Eu não queria entrar nos detalhes. Pois que
no tempo do ocorrido eles realmente não faziam diferença.
                    Então eu voei, e voei com meu pai. Com o abraço do pai, a companhia do pai, a
risada do pai e a amizade de pai. Nada daria errado. Não tinha como dar errado. Eu
tinha fé em meu pai. Fé! Eu confiava nele, e confiava muito. Chegava à escola
perguntando se no dia seguinte ele viria novamente. Eu queria aquilo de novo e de novo
e de novo... Eu nem ouvia direito o “não sei, amanhã a gente vê”, eu era só alegria. Na
verdade eu estava feliz. Era um menino feliz.

Ya no tengo fé en nada (por Ricardo González Rodrigues)

Ya no tengo fé en nada
 (por Ricardo González Rodrigues)

Ya no tengo fé en nada
todo y todos están perdidos
para mí...
Y mira que ya fui
el más devoto de todos
a los buenos principios
al ser humano
al Dios bondadoso
que escuchaba mis súplicas...
Me parece que mi fé
se acabó
ya no me quedan esperanzas
solo me quedan recuerdos
y ellos son nada más que eso...¡Recuerdos!
Pero a pesar de todo
en el fondo de mi corazón
y de mi alma
quiero que despierte
nuevamente en mí
esta voluntad de creer
de pensar que existe
una solución
y paradojicamente
pienso que es posible...

Ricardo González Rodrigues
Mi contribuición via facebook para el Sarau de la
Casa de la Cultura de Porto Feliz

Feriado (por Elineu Rosa Tomé)

Feriado
(por Elineu Rosa Tomé)


                          Parecia uma espécie de festa. Com jeito, sensação, cheiro de festa. Muita
criança, muitos meninos, uma molecada e eu no meio deles, misturado,
bagunçando, brincando, indo, indo de bicicleta. Todos nós tínhamos uma
bicicleta, pelo menos era assim que eu imaginava. Numa longa fila nem um
pouco organizada, feita de grupinhos de crianças, com olhos abertos,
escancarados, atentos, elétricos. Dia de sol, domingo de sol ou feriado. Isso! Era
um feriado. Um feriado grande, importante, dia da pátria ou coisa parecida. A
molecada como numa procissão seguia atrás da promessa de diversão, presentes
e quem sabe até de aventura. Todos se transformaram num lago de sorrisos
satisfeitos.
                          Enfrentamos a ladeira de terra até a entrada do sítio, que depois de
atravessar o que parecia uma infinidade de árvores compridas e finas,
chegávamos a um campo de futebol. As árvores cercavam com verde e sombra
todo aquele campo, toda aquela gente, todas aquelas bicicletas. Combinação
encaixada entre sol e sombra. Todos se tocavam, se esbarravam, se entendiam.
                          Eu só pensava que aquele dia não deveria ter fim. Então no meio do feriado, no meio da festa, entre tudo aquilo e todos aqueles, eu a vi. Linda, clara, iluminada
pela luz do sol que vencia as sombras das árvores. Tudo ficou diferente depois
da visão, depois dela. O som em volta diminuiu, a molecada toda perdera a cor,
todos ficaram em preto e branco. Mas na multidão cinzenta eu a via colorida. A
visão concentrava-se em seu rosto claro e no seu rosto claro, a sua boca vermelha
e na sua boca vermelha, seu sorriso branco. Acima do sorriso branco havia olhos
grandes e negros, emoldurados por sobrancelhas sem fim.
                          Hipnotizado, rendido entre empurrões e esbarrões, entre vozes e cheiro de
pipoca, tropeços e insegurança anestesiada, eu tentava mantê-la sob minha
vigilância. Não podia perdê-la na multidão, perdê-la para o tempo, para o depois.
O depois me ansiava. Sem me dar conta eu estava frente a frente com a visão.
                          Ela me olhou. Não sei como eu percebi que ela percebeu que eu a havia
percebido. E também não sei como num dia de felicidade, de festa, de feriado
grande, eu conheci a frustração. E então também percebi que ela fazia questão de
que eu percebesse que eu era um menino. Era um problema de tempo... Ela
mulher e eu menino. Contra minha vontade e sob meus protestos, o dia foi
terminando. Todos se foram, (não sei para onde) inclusive ela. Contrariado
aceitei que os momentos têm prazo de validade, vislumbrei que do tempo só
permanece aquilo que protegido descansa dentro. Dentro da gente, dentro do
peito. Só fica, resiste e transcende o tempo de dentro.
4º Sarau Na Casa de Porto Feliz

Quinta-feira, 28 de junho de 2012, às 20h00
Na Casa Da Cultura

Tema deste mês:  O AMOR...

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