sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Versos Monçoeiros (por Willians Boves - 1º lugar no FLIPORTO 2012)


Versos Monçoeiros
(por Willians Boves - 1º lugar no FLIPORTO 2012)



Almeida Júnior - Estudo da Partida da Monção, 1897

Sob a abóboda celestial que no horizonte esmaecia,
Aos homens a terra despiu-se em dourado fulgor,
Aos seus mais altos ideais jus fazia,
A vidas inglórias prometeu doce sabor.

Resplandecer dourado de frágil esperança,
Dos homens a cobiça avivou,
Objeto da mais vil ganância,
Para o poente os olhares desviou.

Torrentes em silêncio fluíam,
Como em escárnio, em mentirosa placidez,
Impensáveis suplícios mascaravam,
Bem como da obstinação humana zombavam,
Mas que desdenhavam, caso subjugadas fossem.

E das torrentes os homens fizeram caminho,
Que em tosco fundeadouro principiava,
Donde altivez alpestre em eminência se elevava,
Testemunha silenciosa de vidas ao poente lançadas.

Quão majestoso vale, brilhante em tons esmeraldas,
Vivenda de árvores alegres, outeiros que se justapunham,
Quais proveram as viaturas, que ao poente rumariam,
E com as torrentes, desiguais contendas travariam.

Qual ácido a corroer o ser - o pesar das despedidas,
Pois nada se podia antever - na iminência das partidas,
A Deus, súplicas de homens aos quais coragem Deus concedeu, pois ao poente,
Tudo para trás deixar-se-ia.

Avaremanduava, Itagaçava, Avanhandava!
Bracaé, Itupeva, Itapura!
Jupiá, Caijurú, Curaó!
Paiaguá, Guaicuru, Caiapó!

"Por torrentes safiras de lágrimas ousamos navegar,
De rubro manchamos as riquezas d'além-mar,
Muitos sobrevivemos apenas nos sonhos de nossos filhos, pois nossas vidas,
Nas torrentes deixamos escapar.
Oh, ambição nossa, levaste-nos a que, afinal?
Apenas as fronteiras da pátria - para longe... escorraçar?"

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