sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Medos Bizarros (por Sonia Belon)


Medos Bizarros
(por Sonia Belon)



Eu não soube responder de imediato ao aluno que me perguntara o significado de “Triscaidecafobia” — termo que ele encontrara logo no início da crônica de Luis Fernando Veríssimo.
Triscaidecafobia??? Não... Eu não conhecia essa palavra.
Eu sabia que fobia significa medo...
Deca é dez....
 Mas...  e Triscai?
Definitivamente não. Eu não tinha nem idéia do que fosse triscaidecafobia...
Foi preciso continuar a leitura para que entendêssemos que o autor estava se referindo ao “medo do número 13”.
Estranhei o argumento. Pensei comigo: “Mas que bobagem é essa??? Isso lá existe? Eu nunca ouvi falar em tal medo... E olha que, de medo, eu entendo muito bem!”
Imaginei que meu cronista favorito faria melhor se contasse a história de gente que tem medo de altura (acrofobia), de viajar de avião (aerofobia), de casamento (gamofobia)... Medos esses até que compreensíveis; afinal, a pessoa pode ficar machucada se cair da escada, ou morrer se o avião despencar , ou endoidecer se o casamento não der certo. Mas medo de um número ...? Que medo mais bobo e descabido! Que absurdo!
Mas, de repente, caí em mim... Peraí!  Quem sou eu para achar alguma fobia absurda!
Logo eu morro de medo de escuro (nictofobia) e de lugares fechados (claustrofobia)!  Quer medos mais descabidos que esses?
A partir daí fui me lembrando de outros medos bobos. Como o da minha amiga Rita, por exemplo.  Quando menina ela tinha verdadeiro pavor de...penas!  Pode???  Pode.
         Certa vez, sem saber, eu supliciei essa colega de 5º ano, levando para a sala de aula uma pena de uns 20 cm em que adaptei um grafite. Ao escrever com essa improvisada lapiseira eu me via parecida com a imagem de São Bento, com uma linda pena em punho, redigindo as regras da Ordem. E tão contente eu estava, que nem percebi que, na carteira do lado, a Rita fungava, suava e tremia feito vara-verde diante daquilo que para os outros colegas era apenas um inofensivo objeto, mas que para ela parecia um monstro a ameaçar-lhe a existência.
         Lembrei-me ainda do medo de chuva que tanto fez sofrer uma querida tia. Nem bem uma nuvenzinha tímida acinzentava o azul do céu, e Tia Candinha se punha de joelhos implorando a Deus que levasse para bem longe aquele “temporal terrível”. Numa noite, quando chovia torrencialmente e a tia Candinha chorava a cântaros, meu avô levou- a para o quintal e fechou-lhe a porta na cara, esperando que a filha — menina de uns 11 anos — enfrentasse sua fobia. Ah, que remédio amargo e inútil! Tia Candinha gritava e esmurrava a porta num desespero tamanho que parecia estar sendo perseguida por um leão faminto...
         Ela nunca se libertou da fobia. Mesmo quando, já adulta ,debruçava-se na janela do 19º andar , viajava de avião, nadava nas águas barulhentas do rio que cortava o sítio e encarava a violência da cidade grande , ela continuava a ter esse medo comparativamente tão descabido.
         Mas além da Rita e da Tia Candinha, conheço muitas outras pessoas com fobias.      
         A Paula e a Bianca, por exemplo, têm medo de cachorro, até mesmo de filhotinho de poodle.  A Luciana e a Verinha têm medo de baratas e a  Rose, de lagartas — dessas que aparecem em coqueiros de jardim.  O Pedrinho tem pavor de passar debaixo de escadas. A Jane tem medo  de subir as escadas dos prédios enquanto a Iná tem medo de elevadores.  A Nádia e o Benedito têm medo de falar em público. A Lívia tem  medo de injeção;   a Margarida, de hospital e o Ariovaldo, de cemitério.  A Lia, a Cida e a Alessandra têm  medo de rãs e sapos enquanto a Ângela treme diante de qualquer  inseto voador. O Roberto e a Cinira têm medo de micróbios. A Fátima e o Anderson— como eu — têm medo de escuro.  O falecido Betão tinha medo de isopor.  A Elisa, a Gisele, a Janaína, o Paulinho e a Simone têm medo de dirigir.  A Edna tem medo de galinha e a Talita de lagartixa....
         Só não conheço mesmo é gente com medo do número treze...




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