Medos Bizarros
(por Sonia Belon)
Eu não soube
responder de imediato ao aluno que me perguntara o significado de “Triscaidecafobia”
— termo que ele encontrara logo no início da crônica de Luis Fernando
Veríssimo.
Triscaidecafobia???
Não... Eu não conhecia essa palavra.
Eu
sabia que fobia significa medo...
Deca
é dez....
Mas... e Triscai?
Definitivamente não.
Eu não tinha nem idéia do que fosse triscaidecafobia...
Foi preciso continuar
a leitura para que entendêssemos que o autor estava se referindo ao “medo do número
13”.
Estranhei o argumento.
Pensei comigo: “Mas que bobagem é essa??? Isso lá existe? Eu nunca ouvi falar
em tal medo... E olha que, de medo, eu entendo muito bem!”
Imaginei que meu
cronista favorito faria melhor se contasse a história de gente que tem medo de
altura (acrofobia), de viajar de avião (aerofobia), de casamento (gamofobia)...
Medos esses até que compreensíveis; afinal, a pessoa pode ficar machucada se
cair da escada, ou morrer se o avião despencar , ou endoidecer se o casamento
não der certo. Mas medo de um número ...? Que medo mais bobo e descabido! Que
absurdo!
Mas, de repente,
caí em mim... Peraí! Quem sou eu para
achar alguma fobia absurda!
Logo eu morro de
medo de escuro (nictofobia) e de lugares fechados (claustrofobia)! Quer medos mais descabidos que esses?
A partir daí fui
me lembrando de outros medos bobos. Como o da minha amiga Rita, por exemplo. Quando menina ela tinha verdadeiro pavor
de...penas! Pode??? Pode.
Certa vez, sem saber, eu supliciei essa colega de 5º ano,
levando para a sala de aula uma pena de uns 20 cm em que adaptei um grafite. Ao
escrever com essa improvisada lapiseira eu me via parecida com a imagem de São
Bento, com uma linda pena em punho, redigindo as regras da Ordem. E tão contente
eu estava, que nem percebi que, na carteira do lado, a Rita fungava, suava e
tremia feito vara-verde diante daquilo que para os outros colegas era apenas um
inofensivo objeto, mas que para ela parecia um monstro a ameaçar-lhe a
existência.
Lembrei-me ainda do medo de chuva que tanto fez sofrer uma
querida tia. Nem bem uma nuvenzinha tímida acinzentava o azul do céu, e Tia
Candinha se punha de joelhos implorando a Deus que levasse para bem longe aquele
“temporal terrível”. Numa noite, quando chovia torrencialmente e a tia Candinha
chorava a cântaros, meu avô levou- a para o quintal e fechou-lhe a porta na cara,
esperando que a filha — menina de uns 11 anos — enfrentasse sua fobia. Ah, que
remédio amargo e inútil! Tia Candinha gritava e esmurrava a porta num desespero
tamanho que parecia estar sendo perseguida por um leão faminto...
Ela
nunca se libertou da fobia. Mesmo quando, já adulta ,debruçava-se na janela do
19º andar , viajava de avião, nadava nas águas barulhentas do rio que cortava o
sítio e encarava a violência da cidade grande , ela continuava a ter esse medo
comparativamente tão descabido.
Mas além da Rita e da Tia Candinha, conheço muitas outras
pessoas com fobias.
A Paula e a Bianca, por exemplo, têm medo de cachorro, até
mesmo de filhotinho de poodle. A
Luciana e a Verinha têm medo de baratas e a
Rose, de lagartas — dessas que aparecem em coqueiros de jardim. O Pedrinho tem pavor de passar debaixo de
escadas. A Jane tem medo de subir as escadas
dos prédios enquanto a Iná tem medo de elevadores. A Nádia e o Benedito têm medo de falar em público. A Lívia
tem medo de injeção; a
Margarida, de hospital e o Ariovaldo, de cemitério. A Lia, a Cida e a Alessandra têm
medo de rãs e sapos enquanto a Ângela treme diante de qualquer inseto voador. O Roberto e a Cinira têm medo
de micróbios. A Fátima e o Anderson— como eu — têm medo de escuro. O falecido Betão tinha medo de isopor. A Elisa, a Gisele, a Janaína, o Paulinho e a
Simone têm medo de dirigir. A Edna tem
medo de galinha e a Talita de lagartixa....
Só não conheço mesmo é gente com medo
do número treze...
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