sexta-feira, 31 de agosto de 2012

MEA CULPA, FUI MANÉ! (por José Eduardo “JEB” Bertoncello)


MEA CULPA, FUI MANÉ!
(por José Eduardo “JEB” Bertoncello)



     Sem deixar tempo e lugar precisos e sem usar de qualquer outro nome que não o meu, autor, aqui vai um “causo” meu. Exemplo da mais pura “manezice”. Episódio tão estúpido que até tinha me saído da mente, ficando fora dela por anos.

     Eis que eu, mais jovem, em outro trabalho, flertava (conhecem o termo?) com uma moça que era presença freqüente lá. Acontecia aquela lista toda de sinais e rituais entre a gente (troca de olhares, sorrisos blábláblá). Éramos dois seres humanos AFIM, entenderam?

     Era uma moça dessa cidade mesmo, muito bonita. Era linda e cobiçada, uma dessas mulheres cheias de luz que ativam a percepção da poesia na gente, chocando nossos sentidos com beleza... Ah, esqueçam - Tom e Vinícius fariam algo de grande com a eletricidade que ela causava, não tenho talento para tentar algo artístico sem parecer um copista brega. Pula a parte das emoções causadas pela menina.

     Só que antes EU era uma dessas aberrações nerds que você vê em filmes e outras histórias. Era uma amostra da vida imitando com precisão a arte. Dramatizando bastante, talvez para conseguir alguma simpatia, era um ser humano vivendo uma vida-caricatura.

     Bem, escada a gente sobe, estrada a gente segue, as coisas evoluem. Nossa proximidade aumentou, a coisa avançava, ciclo natural. Conversas se expandiram, todas aquelas atitudes e ações aumentaram. Novo nível de proximidade todo dia. Num dos nossos momentos juntos, disfarçado de conversa comum, disse a ela que deveria cortar o seu cabelo curtinho, que achava demais mulher usando o cabelo assim. Não quero dizer cabelo chanel, nada meio termo que se passa por cabelo curto. Falo de cabelo cabelinho mesmo, corte no estilo masculino. Curto de verdade, sem dó dos fios.

     Cada um na sua, eu acho bonito demais.

     Caras, ela fez! Ela cortou! (Escrevo isso com uma mão na testa e o olhar baixo)

     Ficou linda, carinha angelical, os traços delicados daquela beleza com ar de inocência acentuados por uma moldura divina...

     Entretanto, eu não soube o que fazer com aquilo. Elogiei, meio aparvalhado por ela ter feito o que sugeri. Mas a coisa entre nós parou de evoluir. O nerdão que eu era estancou.

     Pois a moça cortou o cabelo POR MIM!

     Ela queria mais mesmo, já eu, não... Ou melhor, fiquei assustado demais para evoluir com ela.

     Ela se foi. Abandonou aquela terra que não daria mais nada que eu parecia ser. Foi sensata - temos de cortar o ramo que não dá fruto. Houve a partir de então cada vez menos de tudo, conversas, olhares, até a presença dela.

     Quando nos encontrávamos, sentia a decepção, acompanhada da raiva da moça.

     Nerdão! Às vezes, nossa versão de tempos idos é tão odiosa!

     Ela terminou bem, pessoal. Casou, tem filhos, está bem hoje. Não sou capaz de estraçalhar corações de forma hollywoodiana. Felizmente, pois, pelo visto, não aguentaria.

     O episódio só voltou à tona ontem, içado para a superfície da mente, vindo do subconsciente/porão de lembranças por conta da conversa com uma colega de trabalho, que havia cortado o cabelo blábláblá. Não saiu mais da mente.

     Por que resolvi escrever? EXPIAÇÃO. Passei a noite sentindo tudo mais amargo, incapaz de esquecer de minha falta de sensibilidade, covardia, “manezice”. Alguma exposição pública, me submetendo a alguma vergonha pública, me pareceu apropriado.

     Texto acabando, aqui vai o arremate, a conclusão: Ganhei, um dia, um coração. Não soube o que fazer com ele. Desperdicei vida. Ofendi.

     MANÉ!

Nenhum comentário:

Postar um comentário